Uma guerra que começa no mapa, mas só termina com política (e coragem)
Imagine que a guerra na Ucrânia é como um rio turbulento que atravessa o continente europeu. Para pará-lo, não basta construir uma barragem — é preciso combinar engenharia, diplomacia e confiança. E nisso, os dois lados estão falando línguas completamente diferentes.
De um lado, Vladimir Putin apresenta suas “condições” como se fossem a entrada para uma paz negociada. Do outro, Volodymyr Zelensky insiste que essas condições são inaceitáveis — terra por paz, não dá.
O que Putin realmente quer? Nada de OTAN e tudo (ou quase tudo) sobre o mapa
Putin, em termos simples, quer:
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Garantia de que a Ucrânia fique fora da OTAN — nada de aliados militares ocidentais chegando às suas fronteiras.
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Controle russo (ou pelo menos garantido) sobre quatro regiões históricas da Ucrânia: Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson — mesmo que hoje ele não tenha controle total.
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Reconhecimento dessas “novas regiões russas” e alívio parcial das sanções impostas à Rússia, que têm pesado bastante na economia do país.
Ou seja: não é só um cessar-fogo – é um acordo de paz com gains territoriais reais e segurança geopolítica para a Rússia.
Por que Zelensky “não colabora”? Simples (e duro): território, lei e futuro
Zelensky, por sua vez, está preso por três razões fundamentais:
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Território é inegociável: a Constituição ucraniana impede qualquer desmembramento sem referendo popular. E ele tem uma “Fórmula da Paz” com dez passos — que incluem a restauração total das fronteiras de 1991, trocas de prisioneiros e responsabilização por crimes de guerra.
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Opinião pública rejeita concessões: pesquisas mostram que os ucranianos não querem “trocar terra por paz”. Foi o povo que elegeu Zelensky, e ele não pode ignorar isso.
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Congelar o conflito é perigoso: aceitar um “não-atirar por enquanto” significaria manter a Rússia com ganhos reais e ainda dar tempo para que se reforce e ataque de novo. Zelensky exige garantias previstas, como defesa aérea e apoio militar ocidental.
Conclusão? Para ele, esses requisitos de Putin são impraticáveis, legais e moralmente inaceitáveis.
O encontro de 15 de agosto de 2025 — Alasca: tapete vermelho, mas sem resultados
Hoje, na base americana no Alaska, foi a vez de Putin e Trump se encontrarem. Um encontro cheio de cenários e promessas, mas… sem nenhum acordo concreto sobre a guerra.
Putin manteve suas exigências clássicas. Trump elogiou o clima — disse que foi “10 de 10” —, mas nenhuma proposta nova foi lançada. Nem cessar-fogo, nem troca de prisioneiros, nem corredores humanitários. E a Ucrânia nem esteve convidada para a mesa principal.
O principal legado foi simbólico: Putin mostrou que não está isolado, ganhou palco, e Trump tentou se apresentar como mediador. Mas, na prática, nada avançou. De Kiev ao Parlamento Europeu, reagiram com cautela — e preocupação.
O impasse geopolítico — quem paralisa quem?
Putin parte de uma posição de força — controla parte do território, tem aliados fortes e tenta consolidar uma nova ordem geográfica e política na região.
Zelensky, por outro lado, não pode ceder ou sequer negociar a integridade territorial da Ucrânia. Especialmente quando a lei, a população e a moral exigem retomar cada centímetro ocupado, dentro de uma perspectiva de segurança duradoura.
Nenhum negócio à vista: é como tentar fechar uma fenda geopolítica com duas rochas que não se encaixam — os contornos disso simplesmente não se encontram.
E agora? Se nem agora saiu acordo, o que cabe a seguir?
Apesar do cenário tenso e empacado, já se discute algo possível e pragmático:
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Cessar-fogo monitorado: com OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), drones ou observadores internacionais controlando as linhas de frente.
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Trocas humanitárias: fim das deportações de crianças, trocas “todos por todos” de prisioneiros, liberação de ajuda humanitária.
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Garantias de segurança: equipamentos, defesa aérea, compromisso militar diplomático da UE e dos EUA — mas sem que isso signifique adesão imediata à OTAN.
Nada disso resolve o impasse final sobre território, mas serve para aliviar a vida das pessoas e ganhar tempo até que algo mais negociável (ou outra mudança de cenário) apareça.
Um mapa mental da resistência: o que ogni lado quer e o que recusa
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Putin quer: território + neutralidade + alívio de sanções.
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Zelensky quer: integridade, justiça, segurança garantida.
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Ambos recusam: ceder tudo, aceitar anexações, entregar o futuro da Ucrânia.
O encontro de hoje expandiu a conversa, mas ainda sem pontes que unam as margens — cada lado está firme em sua base. A verdadeira paz, se vier, dependerá de coragem, política interna e apoio internacional sólido.
Pense na Ucrânia como um quebra-cabeça que foi intencionalmente embaralhado. Hoje, temos só bordas montadas — modelos claros de posição. Mas as peças centrais (território, justiça, paz duradoura) ainda não encaixaram.
Se você segue o “Geografia do Mundo”, sabe que esse tipo de conflito não é apenas guerra de mapas, mas de narrativas, leis e decisões difíceis. O encontro Putin–Trump de 15 de agosto de 2025 foi mais um quadro no mural, mas sem resolução — ainda estamos olhando o quebra-cabeças inteiro, sem saber como remontar a figura.
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