agosto 18, 2025

O mapa da guerra: o que existe em Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia, Kherson e Crimeia

 


Bem-vindos a mais um mergulho no Geografia do Mundo! Hoje vamos falar de cinco nomes que aparecem constantemente nos jornais e que, muitas vezes, parecem apenas palavras complicadas de se pronunciar: Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia, Kherson e Crimeia. Essas cinco regiões da Ucrânia são hoje o coração de uma disputa que está sacudindo a geopolítica mundial. Putin, o presidente da Rússia, insiste que elas devem ser parte do território russo, enquanto a Ucrânia e grande parte do mundo rejeitam essa ideia. Mas afinal de contas, o que existe nessas áreas? Por que elas são tão importantes para Moscou? E por que Kiev não aceita perdê-las de jeito nenhum?

Prepare-se para uma viagem longa, divertida e esclarecedora, em que vamos explorar a história, a geografia, a cultura e a economia desses territórios. Vamos entender, em linguagem simples, o que está em jogo em cada pedaço de terra. E já aviso: tem de tudo um pouco — desde minas de carvão até praias turísticas, de tradições cossacas a usinas nucleares.

Contexto geral: Por que a Rússia quer essas regiões?

Antes de olhar uma por uma, precisamos entender o pano de fundo. A Rússia de Putin tem uma visão chamada de “Mundo Russo” (Russkiy Mir), segundo a qual povos que falam russo ou que já estiveram sob domínio de Moscou deveriam voltar a estar unidos. Para Putin, a Ucrânia seria um erro histórico: um país que, no fundo, seria apenas um pedaço da Rússia que “fugiu” do controle soviético em 1991.

Essas cinco regiões que estamos analisando têm algumas características em comum:

  1. História de ligação com o Império Russo e a União Soviética — foram colonizadas, russificadas ou industrializadas durante os séculos XIX e XX.

  2. População russófona — muitas pessoas falam russo como primeira língua e, em alguns casos, se sentem mais próximas culturalmente de Moscou do que de Kiev.

  3. Recursos naturais estratégicos — carvão, ferro, aço, agricultura, energia nuclear, rotas marítimas.

  4. Posição geográfica-chave — seja como acesso ao Mar Negro, seja como “corredor” entre Rússia e Crimeia.

Agora sim, vamos embarcar em nossa viagem!

Luhansk: o coração industrial do leste

Onde fica?

Luhansk está no extremo leste da Ucrânia, bem na fronteira com a Rússia. É parte da região conhecida como Donbas (Donetsk + Luhansk), famosa por sua mineração de carvão e indústria pesada.

O que existe lá de importante?

  1. Carvão e indústrias: Luhansk é uma das regiões mais ricas em carvão da Ucrânia, com enormes minas que abasteceram a indústria soviética por décadas.

  2. Indústria de máquinas: a cidade de Luhansk, capital regional, tem fábricas que produziam locomotivas, peças para aviação e veículos militares.

  3. Cultura russófona: boa parte da população tem russo como língua principal e tradições culturais próximas das da Rússia.

Por que Putin quer?

Controlar Luhansk significa controlar uma área com indústria pesada, recursos minerais e, de quebra, uma população que em grande parte não rejeita a presença russa. Para Moscou, é um território que reforça a ideia de que o “Donbas é russo”.

Curiosidade geográfica

O nome “Luhansk” vem do rio Luhan, que corta a cidade principal. A região tem planícies largas, típicas das estepes ucranianas, e serviu de palco para batalhas importantes na Segunda Guerra Mundial.

Donetsk: a joia do Donbas

Onde fica?

Donetsk fica logo ao lado de Luhansk, formando o par “irmão” que dá nome ao Donbas.

O que existe lá de importante?

  1. Minas de carvão: Donetsk é a maior região mineradora da Ucrânia, conhecida por suas cidades construídas ao redor de minas.

  2. Indústria metalúrgica: aço, ferro, usinas siderúrgicas — Donetsk é comparada a um “Vale do Ruhr” (Alemanha) do leste europeu.

  3. Esporte e cultura: a cidade de Donetsk era sede do Shakhtar Donetsk, um dos maiores clubes de futebol do leste europeu, antes da guerra.

  4. População urbana: a região foi fortemente urbanizada durante a era soviética, com grandes blocos habitacionais.

Por que Putin quer?

Donetsk é essencial para a ideia de “recuperar o Donbas”. É uma região que tem tanto valor econômico (minério, aço) quanto simbólico — foi um dos centros mais leais a Moscou dentro da Ucrânia antes da guerra.

Curiosidade geográfica

Donetsk foi originalmente fundada por um empresário galês no século XIX, chamado John Hughes. Tanto que a cidade chegou a ser chamada de Yuzovka (derivado de Hughes). Olha só: até mesmo um galês ajudou a construir a história dessa região disputada!

Zaporizhzhia: o poder da energia nuclear

Onde fica?

Zaporizhzhia está mais ao sul, ao longo do rio Dnipro (ou Dnieper), um dos maiores rios da Europa.

O que existe lá de importante?

  1. Usina nuclear de Zaporizhzhia: a maior da Europa, com seis reatores. Ela fornece energia para milhões de pessoas e é considerada estratégica em qualquer negociação.

  2. Indústria de máquinas: a cidade de Zaporizhzhia abriga fábricas históricas de motores de avião e automóveis (como a ZAZ, famosa por produzir o carro soviético Zaporozhets).

  3. Cultura cossaca: a região foi lar dos cossacos zaporogos, guerreiros lendários que tinham uma república quase independente no século XVI. Essa herança é parte fundamental da identidade ucraniana.

  4. Agricultura: com terras férteis, Zaporizhzhia é produtora de trigo, girassol e outros grãos.

Por que Putin quer?

Além do valor econômico, controlar Zaporizhzhia significa controlar uma usina nuclear que pode abastecer ou ameaçar milhões de pessoas. É também uma região de passagem entre o leste (Donbas) e o sul (Crimeia).

Curiosidade geográfica

O nome Zaporizhzhia significa “além das corredeiras” em ucraniano, referência às quedas d’água que existiam no rio Dnipro antes de serem submersas por represas soviéticas.

Kherson: a chave do acesso à Crimeia

Onde fica?

Kherson está no sul da Ucrânia, às margens do Mar Negro e próximo à península da Crimeia.

O que existe lá de importante?

  1. Acesso ao Mar Negro: controlar Kherson significa controlar rotas marítimas fundamentais para exportações.

  2. Agricultura: a região é um dos celeiros da Ucrânia, produzindo trigo, frutas e vegetais em larga escala.

  3. Infraestrutura hídrica: canais de irrigação de Kherson levavam água doce para a Crimeia, algo vital para a península.

  4. Estaleiros e portos: Kherson tem tradição naval, com construção de navios e exportação de grãos.

Por que Putin quer?

Kherson é estratégico porque garante o corredor terrestre até a Crimeia e também porque controla a água que abastece a península. Para Moscou, é uma região-chave para consolidar a anexação da Crimeia.

Curiosidade geográfica

A cidade de Kherson foi fundada por ordem de Catarina, a Grande, no século XVIII, como parte da expansão russa para o Mar Negro.

Crimeia: a pérola do Mar Negro

Onde fica?

A Crimeia é uma península no sul da Ucrânia, cercada pelo Mar Negro e pelo Mar de Azov.

O que existe lá de importante?

  1. Base naval de Sebastopol: sede da Frota do Mar Negro russa, essencial para a presença militar de Moscou na região.

  2. Turismo: praias, vinícolas e montanhas tornam a Crimeia um destino turístico desde a era czarista.

  3. História multiétnica: a Crimeia já foi lar de gregos, tártaros, otomanos e russos, um verdadeiro caldeirão cultural.

  4. Agricultura e vinhos: além do turismo, a península produz uvas e vinhos de qualidade.

Por que Putin quer?

Putin anexou a Crimeia em 2014, alegando proteger a população russa local e garantir a presença militar no Mar Negro. Para Moscou, a Crimeia é intocável — é considerada parte da Rússia “para sempre”.

Curiosidade geográfica

A Crimeia tem uma das paisagens mais bonitas da região: praias ensolaradas no sul, estepes áridas no norte e montanhas que lembram o litoral mediterrâneo.

O que está em jogo?

Se juntarmos tudo, essas cinco regiões representam:

  • Cerca de 20% do território ucraniano.

  • Um terço da indústria e mineração da Ucrânia.

  • Corredores logísticos fundamentais para exportações.

  • Bases militares e usinas nucleares.

  • Uma população de milhões de pessoas, muitas das quais têm identidades divididas entre Rússia e Ucrânia.

Ou seja, não é pouca coisa. Para Putin, garantir esses territórios é consolidar a ideia de que a Rússia ainda pode expandir seu poder. Para a Ucrânia, perder essas áreas seria como perder parte da alma e da independência.

Terras de memória e disputa

Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia, Kherson e Crimeia não são apenas nomes difíceis de pronunciar: são territórios que concentram história, economia, cultura e geopolítica. Cada um deles tem um papel estratégico, e é justamente por isso que estão no centro da guerra.

Enquanto Putin insiste que sem essas regiões não há acordo, Kiev repete que sem recuperá-las não há paz. O mundo observa, tentando entender até onde vai essa disputa que mistura carvão, trigo, usinas nucleares, praias do Mar Negro e memórias de impérios passados.

E aqui, no Geografia do Mundo, fico com a certeza: compreender a geografia é fundamental para compreender a política. Afinal, a guerra, no fundo, sempre passa pelo mapa.

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